Poucos são os obstáculos intransponíveis na humanidade, mas, digo isso com alguma certeza, o rolex é um deles. Não se passa ileso quando se ostenta, mesmo que não seja essa a intenção, um rolex. Não se fala de justiça ou injustiça social tacando um rolex inocente no meio. O rolex é simbólico, é o que, em algum grau, justifica ou sinaliza a injustiça. Para se clamar por ela, é preciso deixá-lo guardado na gaveta. Não se condena a hipocrisia. O rolex, por sua vez, puxa uma camisa lacoste, enfiada dentro da calça e revela um rosto obeso, suado, ruborizado, saindo sem intermediários pelas abas gastas (olha só) da camisa. Há problemas, e há soluções. Mas o rolex continua sendo um obstáculo intransponível. As drogas são queimadas, as armas são apreendidas, os jovens estudam, talvez joguem futebol ou vôlei, ou toquem na banda ou cantem no coral, ou serão presos, ou serão assassinados. Para tudo há uma solução, mas, para que o dedo aponte o problema sem ser ofuscado, antes de tudo, é preciso que se esqueça o rolex na mesa de cabeceira.