A minha história

Outro exercício da disciplina da Silvia Amélia, em 2008. Desta vez, tivemos que nos descrever contando a história de outra pessoa/coisa/acontecimento. O texto tinha que começar da seguinte forma: “Para contar a minha história, preciso começar pela história…”

Para contar a minha história, preciso começar pela história do Daniel Mourão. Daniel entrou no Barão um pouco depois do início das aulas, na quarta série. Expulso de não sei quantos colégios, foi parar na escola estadual. Rosilene, a professora, comentou comigo “Tereza, se você puder ajudar, se ele tiver dificuldades…”. Acenei positivamente enquanto meu olhar acompanhava o colega gordinho sardento entrando na sala 7. Havia boatos de que ele tinha jogado uma carteira pela janela na última escola e a expectativa por suas novas peripécias era enorme. No entanto, o pequeno delinqüente não causou o estrago que prometia e se dedicou exclusivamente em ser um mau aluno. Durante o ano, secretamente, comecei a admirá-lo, gostava de seu olhar desafiador, de sua displicência e apatia, me alimentava de tudo aquilo nele que, definitivamente, não era eu. O ano acabou e, durante as férias, Rosilene me contou em uma carta que o Daniel tinha sido reprovado.

Essa foi a última notícia dele até que recentemente tropecei em seu perfil no orkut. Com a pele bronzeada e uma tatuagem de carpa cobrindo os músculos definidos do braço, o menino (ainda) sardento mora na Dinamarca e ganha a vida como cozinheiro em pequenas recepções. Voltará para o Brasil, onde sua noiva o espera.  Doze anos depois da entrada de Daniel Mourão pela porta da sala 7, escrevo a minha história sentada em carteiras que nunca foram jogadas pela janela, com a estranha sensação de que a vida acontece em outro lugar.

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