Corro em direção à porta.
– Obscena!
Me desconstrói esse seu jeito de dizer as palavras pelas sílabas, dissociadas do significado. Igualmente assemântica, eu, sem fôlego e prostrada no batente, a observo. Ainda não parou de rir. Então, desfeita pelo esforço de todas as minhas tentativas anteriores, sorrio, um pouco para finalizar a respiração carregada, outro tanto para retribuir sua bela exposição de dentes:
– A porta estava aberta.
– Meio aberta. – Você me corrige, cessando a risada. Sua boca se contrai, medindo a força necessária para se desfazer da graça, enquanto seu olhar a denuncia, irônico, desafiador.
– Você se diverte comigo.
– Muito pouco.
Assim, num sopro de voz, ela me agride. Obscena, sou um Pequeno Príncipe, e ela é a rosa com esses espinhos que dão conta de machucar somente quem a procura com delicadeza, quem se importa com ela a medida inversa que se importa consigo. Me aproximo novamente e toco seus pés descalços, afastando as armas, e silencio os outros pensamentos.