Sr. Saudades

Estava uma fila muito grande, a espera na porta por esse senhor que, se não veio de distante, veio de muito longe, mas já foi perto um dia, mas agora estava por onde o olhar não alcança. É o Sr. Saudades, e lá vem ele, de terno e gravata, de chapéu e bengala, e vem tão devagar que nem parece que chega, parece que vai, uma vez mais. A fila é um alvoroço agora, não se sabe quem estava primeiro e quem estava por último, a senhora gorda, que reclamava do calor, da tarde, da água, da lonjura, quase desmaia lá pelo meio. Ah, meu Deus. E o Sr. Saudades tarda, que o velho não é bobo, e nem tolo, e de lento não tem nada; mas tarda, porque é melhor assim, porque assim se dura, assim não há trabalho em esquecer, assim, não é difícil lembrar. Ele está no limite do que há de visível e do que há, aquilo tudo, de invisível, enquanto a fila, à porta de sua casa, acumula, e a senhora gorda parece que desiste, mas pede piedade, e o rapaz dos cabelos longos cede e vai ao final daquilo que, por ora, não vou insistir em chamar de fila. Saudades, saudades, de te ver assim no horizonte e achar que chega tão devagar que eu me morro e me embolo toda, essa confusão de sentimentos, essa porta de uma casa que permanece fechada enquanto não chega, e que meu fôlego é uma senhora gorda. Ai, senhor, não demore.

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