Quando era pequena, eu e minha irmã dividíamos uma assinatura da revistinha da Turma da Mônica. Sempre revezávamos quem pegava o almanaque da Mônica para ler primeiro quando, às sextas-feiras, chegavam os bloquinhos com quatro ou cinco revistinhas por vez. Passado um tempo, já adolescente, descobri uma maleta de histórias em quadrinho na casa de um primo menor. Eram histórias “para menino”, mas devorei todas elas, incluindo a que foi (e acho que é até hoje), a minha referência de melhor história de todas: uma saga do Batman contra Ras Al Ghul, com uma luta épica no deserto. Desde então, meu contato com os quadrinhos tem sido mínimo – uma Persépolis aqui, um Fun Home ali, e um ou outro quadrinho de internet por lá.
Ano passado, comecei a acompanhar os quadrinhos da Turma da Mônica Jovem, o que pode soar estranho para uma mulher de vinte e tantos anos. É o meu jeitinho. Devo admitir que não acho todas as edições boas.Tenho preferência pelo lado “realístico” da série e tremo quando vejo que um número vai ter um super-vilão ou coisa do gênero. Meus personagens preferidos são a Aninha, a Denise e o do contra (também adoro as participações auto-zoadoras do Xaveco). Acho a Mônica e o Cebolinha os
mais sem graça. Parece que eles não tiveram um desenvolvimento significativo: enquanto os outros ganharam várias camadas de personalidade, eles continuam planos, sofrendo por motivos similares, se não idênticos, aos da infância. Talvez seja necessário um porto seguro pra trama, vá saber.
Recentemente, decidi voltar a me dedicar aos quadrinhos, digamos, mais gráficos. No cenário geral, meus personagens favoritos do mundo ilustrado são o Batman (acompanhei pelos filmes, quadrinhos do primo e desenhos animados) e os X-men (desenhos animados e filmes, acho que cheguei a ler só uma ou duas historinhas). Então, em frente a uma estante de livraria, escolhi duas revistas desses últimos, baseada mais no custo/benefício do que em qualquer indicação: uma coletânea dos primeiros números dos “Surpreendentes X-men” e uma simpática edição de “X-men Noir”.
Os Surpreendentes X-men conta a história dos X-men que sobraram depois que todo mundo morreu e muitos ressuscitaram numa batalha numa ilha lá. Fiquei muito desapontada com os personagens e com a trama de vilões tecnológicos… Tirando uma ou outra piadinha do Wolverine, nada se salva. Fica a impressão de que acabaram todos os argumentos verossímeis para uma boa história, então começaram a inserir non-sense do estilo “já lutamos contra a mula sem cabeça”, “ah! E se lutássemos contra a mula sem cabeça marciana robô?”. Dispensável.
Por outro lado, com X-men noir, foi diferente. A ideia de jogar os personagens para 1930 e fazer com que eles lidem com um mundo com outros problemas é ótima. X-men Noir tem uma trama meio confusa, mas cativante principalmente pela estética e pela retirada de toda a parafernália tecnológica às quais os X-men de hoje têm acesso (SPOILER ALERT o que evita, por exemplo, que a sala de simulações se torne um monstro assassino de fibra ótica, como aconteceu nos Surpreendentes X-men. Poupe-me.).
Depois de ler os X-men noir, passei um mês namorando o Homem Aranha Noir, que estava na mesma estante, plastificado, à minha espera. Apesar de ter antipatia ao homem aranha que o cinema me apresentou, com aquela imaturidade e inocência, o elemento “noir” tinha me conquistado o bastante para querer ler mais um pouquinho daquilo. Então, tomei $coragem$ e resolvi comprar. Claro que, ao chegar na livraria, descobri que tinham levado o último exemplar recentemente. Para não perder a viagem, comprei o Koko Be Good, uma história em quadrinhos moderninha sobre pré-vida adulta, legal, “de menininha”.
Em Koko, me identifiquei um pouco (bem pouco) com a personagem principal, principalmente (e assustadoramente) com o fato de contribuirmos para o mesmo fundo de assistência a crianças – o que é apresentado de forma irônica no livro. História boa, mas, definitivamente, não substituiu uma história de super-herói. Com o pensamento fixo, fui à outra livraria e, enfim, comprei a revista do Homem Aranha Noir (#1).
Pela primeira vez, nessa volta à leitura de quadrinhos, uma história me cativou tanto. Acho que Homem-Aranha Noir é o mais próximo que o Homem-Aranha vai chegar de ser um Batman. A trama é incrível e, a partir da metade, eu já estava querendo que fizessem um filme daquilo (quando fui procurar alguém falando sobre a revista no youtube, encontrei um monte de trailers fictícios feitos por fãs para um possível filme da história). Não sei se é porque nunca tinha acompanhado o homem aranha fora do circuito desenho animado /cinema, mas foi surpreendente vê-lo todo crescido, com amante prostituta, enquanto, no outro quadrinho, segura a mão da Mary Jane. Definitivamente, vou procurar a segunda edição da revista para comprar e sugiro que leiam essa primeira.
Para finalizar, recomendo que assistam este vlog de crítica e apresentação de quadrinhos, parcialmente responsável pela minha volta às historinhas: Think About The Ink
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