Gatinha-mistério

Tudo que você colhe, um dia você planta. #gatinhamisterio

Na época da formação original do Saia Justa, a Fernanda Young soltou a expressão “gatinha-mistério” em uma das discussões. No contexto, ela se referia a moças misteriosas, que não são escrachadas, que sorriem com meia boca, e olham com meios olhos. Muito tempo depois,  na era Orkut e Fotolog, adotei a expressão para me referir àquelas pessoas que soltam indiretas virtuais e que espalham casos mal contados – elas ganharam ainda mais força no Facebook e Twitter.

Durante meu início em redes sociais, confesso que gaticei muito, mas, um dia, dei um basta geral e prometi a mim mesma nunca mais deixar coisas subentendidas. De vez em quando, ainda tenho lapsos, mas um dia estarei completamente curada. Em todo caso, quando eu solto alguma coisa sem destinatário certo ou omitindo informações num meio público, o que  quero é que pessoas sejam instigadas a me perguntar sobre o que eu estou falando ou sejam ludibriadas a pensar que minha vida é mais interessante do que realmente é. Então, penso que todo mundo que gatiça siga a mesma lógica.

Por exemplo, se eu tuíto “uma noite de pouco sono e uma manhã mais que feliz” em vez de “a gata miou alto durante a madrugada, mas de manhã vi que ela não tinha feito xixi fora do lugar”, o que eu espero é que minha vida projetada seja melhor do que a real.

Exemplo de anti-gatice-mistério

Tenho uma amiga com um caso de gatice-mistério crônico, até parei de segui-la nas redes depois de um incidente: ao perguntá-la a tradução para um tuíte mal-explicado, ela me respondeu com um “não é da sua conta” (temos intimidade para esse tipo de resposta). Na hora, pensei: peraí, é da conta dos seus 300 seguidores, mas não é da minha? Ela entrou em crise porque eu não a seguia mais, mas acabou superando.

Uma outra amiga tem um blog mais reservado (no sentido de que é público, mas pouco divulgado) e, vira e mexe, escreve gatices mistério por lá. Durante muito tempo, gastei energia perguntando o significado das metáforas, até que ela reclamou que eu era muito curiosa. Desisti por um tempo de ler, depois voltei a ler, mas me prometi nunca mais perguntar nada – estou escrevendo este post inspirada justamente no último post dela, em que ela gatiça até não poder mais, e eu tenho que me segurar para não perguntar quem são os envolvidos.

Mesmo assim, de vez em quando, ainda insisto em querer saber o significado de alguma gatice de sofrimento soltada na timeline. Na maior parte das vezes, é algo banal, e, quando não é, a dor perde minha consideração. Não respeito o sofrimento de quem solta gatice mistério como “depois de tudo, só posso dizer que o futuro a Deus pertence”, para coisas realmente sérias do tipo morte de mãe. E, insensivelmente, comento apenas hashtag #gatinhamisterio . Me poupem.

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