Dia do escritor, parte 1

O escritor é um artista. É como um escultor ou um pintor, ou um ator ou um músico. Não há nada menos especial do que um escritor frente aos outros artistas. Não que ele seja inferior, ninguém é, mas ele se iguala, a arte é um denominador comum.

Para o escritor, a palavra é a matéria prima. Como a tinta do pintor ou o bronze do escultor, a palavra deve ter suas propriedades físicas estudadas e moldadas. Assim, existe o que é sólido na palavra: a forma. O que é líquido: a função, o som. E, dentro dessa camada crocante e úmida, as palavras têm um quê de transmutável gasoso que beira o metafísico: o sentido.

Trabalhar com palavras exige saber dosar, querer amassar um pouco a forma, forçar que elas se unam, e, sempre que necessário, insultar os gramáticos. Também vale tentar adivinhar a ventania que vai escapar daquela mistura, mas não adianta, o que está depois do arranjo,  foge ao controle do escritor.

É cansativo carregar as palavras no colo e misturá-las bem e na quantidade certa. É desafiador controlar o impulso de querer meter todas as que se tem num mesmo balde (um exagero de palavras pode transformar a intenção de uma paisagem bucólica num bloco de concreto). Mas, quando se é escritor, acertar na mão com um punhado de palavras é secundário, quem pode julgar a arte? O mais difícil, depois de transpirar todos os 90% possíveis, é assumir o ponto final.

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