A poça d’água tá cada dia mais funda. Ela interrompeu meus pensamentos. Eu olhava absorto praquele monte de água com óleo diesel que refletia o céu cinzento e mais umas mils cores de arco-íris. Cada dia mais funda… Insistiu, e eu dei de ombros. É assim que é. Que a poça estivesse mais funda não era surpresa, nem a terra parecia fazer questão de engolir a gororoba reflexiva, nem o vento queria levar aquela papa modorrenta. E o buraco ia aumentando, aumentando, e cada vez mais água, não se sabe de onde, e óleo, dos caminhões de passagem, iam se reunindo na poça, cada dia mais funda. Isso não importava. O que me importava eram as cores, que eram muitas, e eu não sabia como elas estavam pra lá. O cinzento do céu era vindo de cima, e dava pra saber que a poça d’água refletia o céu, porque estava por debaixo dele. Mas aquela festa de cor, que enfeitava o preto do asfalto, não dava pra saber. De onde é que vem o colorido, arrisquei perguntar. Vi pelo reflexo na poça que era ela agora quem suspendia os ombros. Não esperava que soubesse. De sabido lá era eu, e eu não sabia.
