As vantagens de ser invisível – o filme

Sem muita personalidade na direção, e com o roteiro adaptado pelo próprio autor do livro – Stephen Chbosky, que também é o diretor, cof cof – As vantagens de ser invisível é um filme que se segura na atuação incrível de Logan Lerman, Ezra Miller e Emma Watson, precisamente nessa ordem. Emma “Hermione” Watson e Logan “Percy Jackson” Lerman surpreendem ao deixar para trás qualquer semelhança com os papéis anteriores e mergulham de cabeça nesse *clube dos 5 do novo milênio*.

Apesar de ser também a adaptação de um livro juvenil,  ao contrário de Harry Potter e Percy Jackson, As vantagens… não lança mão da fantasia para metaforizar o dolorido processo de transformações da adolescência. Em cento e tantas páginas (ou cento e poucos minutos) é contada a história de Charlie, um garoto retraído, e sua experiência no primeiro ano de highschool. Diferentemente do que acontece em outros filmes infanto-juvenis de sessão da tarde, a highschool de Stephen Chbosky não é o centro do drama. Os problemas que Charlie e seus amigos enfrentam são guerras internas e guardam pouca, ou nenhuma, relação com a aceitação pelos “populares”.

Eu sou você amanhã.

Emma Watson é Sam, a paixão platônica em forma de gente. Apesar de estar longe do padrão Megan Fox de musa adolescente, a atriz ensaia ocupar com propriedade a lacuna deixada pela crescida Natalie Portman, pós-black swan, no coração dos mais alternativos. Mas só isso não seria o bastante para Sam ser irresistível. Além da aparência, num meio sorriso e no movimento dos ombros (the movement you need is on your shoulder… nanana), ela incorpora todas as camadas da beleza problemática.  Seria muito fácil para Sam reinar sozinha na tela, mas, para alegria dos fãs do livro, isso não acontece.

Ezra Miller, o menos juvenil dos atores, vem do suspense Precisamos falar sobre Kevin para o papel de Patrick –  adolescente gay e, por mais que eu odeie essa palavra, “flamboyant”. Patrick está no último ano da highschool e será o primeiro contato de Charlie com uma nova vida de diversões, sendo uma espécie de tutor, ao mesmo tempo que enfrenta os problemas previsíveis decorrentes  de sua sexualidade.

Por último e mais importante, Logan Lerman mostra, em um olhar e uma torcidinha de lábios, o que está se passando por dentro da cabeça de Charlie. De tão convincente, ele nos parte o coração na primeira piscada, e conseguimos, em todos os momentos do filme, imaginar que há algo muito obscuro em seu passado.

Outro papel de destaque é vivido pelo (para sempre Phoebe’s) Paul Rudds: Mr. Anderson, aquele professor de literatura que vai ser responsável por introduzir clássicos ao jovem sensível que quer ser escritor. Ele veste a máscara do “adulto responsável” que faz oposição direta às loucuras de Patrick, apesar de na essência desempenharem o mesmo papel. Muitos momentos importantes que aparecem no livro foram cortados, por isso, a relação de Charlie com o professor fica um pouco deslocada e sem conexão direta com acontecimentos em outros núcleos.

A leitura prévia de As vantagens de ser invisível  pode ter feito com que eu chorasse em mais momentos no filme, mas não concordo que seja necessária. No final das contas, achei que a versão cinematográfica conseguiu superar o livro em vários pontos, como numa forma de reedição revisada (o que não deixou de ser) do próprio autor, com sensíveis melhorias. Por exemplo: no início do livro, Charlie parece ter a mentalidade de uma criança de 12 anos, enquanto no filme, é convincente apenas como um problemático e tímido jovem de 16. Outro problema que tive com o livro foi a forma de retratar a sensibilidade de Charlie com choros constantes. No filme, as cenas em que Charlie chora, são feitas de forma delicada e apropriada (como a mostrada no trailer, na parte do you’re a wallflower). Apesar disso, a leitura do livro, antes ou depois do filme, é essencial. Nele, estão alguns dramas paralelos cortados e mais meia dúzia de frases de efeito lindas.

Oh, Charlie…

Um defeito grave que não deu pra passar batido foi a escalação da Melanie Lynskey para tia Helen. A caracterização para o papel sombrio não a diferenciou da cômica stalker de Charlie (!) Harper, tirando um pouco da “imersabilidade” da história.  De demais lamentações, só o fato de que todas as ações de marketing estejam centralizadas na Emma Watson, que,  na minha opinião, é apenas a terceira melhor no filme, atrás do Patrick e do maravilhoso Charlie.

É um filme adolescente? Sem dúvida. Mas é um filme adolescente com dramalhão capaz de arrancar lágrimas no mais adulto dos adultos. Não espere leveza e entretenimento sem consequências deste filme.  Saí do cinema sem querer vê-lo de novo na telona. Quero comprar o DVD assim que sair e poder chorar sem testemunhas.

As vantagens de ser invisível (2012), o filme *****

4 comentários sobre “As vantagens de ser invisível – o filme

  1. Otavio Oliveira disse:

    Um alívio de felicidade por você ter curtido. Sinal de que não fui só eu (desconfiava de que não fosse, mas não custava confirmar). Só discordei um pouco sobre a Melanie Lynskey. Minhas referências dela sempre foram outras (já viu “Heavenly Creatures”?), bem mais sombrias. Aliás, achei até bom que fosse uma atriz inesperada…

    • Maria Tereza disse:

      já tinha visto heavenly creatures, mas a atriz está tão diiferente lá, que nem lembrava que era ela (fui ver quando consultei o imdb)… no filme achei que a voz, o cabelo e o jeitinho estavam muito parecidos com os da rose… acho que uma atriz mais jovem – e igualmente inesperada – poderia ser mais eficiente.

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