A vida não é aquela que aconteceu uma vez e depois de novo. A vida é inédita, de todos os pontos de vistas. Inédita pra medicina, inédita pra história, inédita para a matemática. Se perde o ineditismo, não é vida, não é nada. Um dia, estava parado na beira de uma ponte e veio um menino, medindo pouco mais que a minha cintura, perguntar se eu ia me jogar. Achei engraçado, por ser o menino tão pequeno e a pergunta tão grande. Não ia não, respondi, e voltei a olhar o fluxo das águas. E se fosse, o que você faria? Eu ia ficar pra ver, ele respondeu, como se não fosse grande a pergunta, o suicídio e o rio. Ri da minha pretensão, achando que iria ser salvo pelo menino. Mas não, ele iria ver. Me contentei em ser a quase-novidade do momento, a depender do moleque, um peixe poderia engolir o meu ineditismo.