Então que existe uma tribo indígena – ou seria uma sociedade antiga? Não sei. De qualquer forma, essa é uma história que escutei de uma pessoa com alguma credibilidade, então, tendo a acreditar que seja real, mesmo sem me lembrar dos detalhes que identificam os atores para conferir no google. Voltando, existe essa tribo. E nessa tribo, assim como em todas as outras, existe uma cultura que é tudo. Dentro dessa cultura, como em várias outras, existe o gestuário característico para representação de certos conceitos.
Um exemplo: aqui pela gente, temos essa mania de balançar a cabeça de um lado para o outro querendo dizer não, ou abaixar e levantar a mesma cabeça quando o assunto for sim e tantas outras interpelações corporais para repetir o que está ou não sendo dito com palavras. Naquela outra tribo, curiosamente, o gestuário que representa noções de passado e futuro tem uma lógica contrária à nossa.
Para nós, o passado é aquilo que ficou pra trás e o representamos, frequentemente, apontando ou abanando os dedos na direção das nossas costas, sobre os ombros, “aquilo que aconteceu há muuuito tempo”. O futuro, por sua vez, é aquilo que está para chegar, é para onde apontam nossos caminhos, então expomos palma e dedos da mão mostrando o que se descortina à nossa frente “Temos uma grande jornada a percorrer”.
Nessa tribo particular, a interpretação é invertida. O passado, aquilo que já aconteceu, é o que é de conhecimento comum. Então, é aquilo que está ao alcance dos olhos. “Veja, você já tem consciência do que aconteceu, você pode visualizar tudo a um palmo do seu nariz!” Gesticularia um nativo, apontando para o que está exposto, imaginariamente, na nossa frente. O futuro, no entanto, é aquilo que é um mistério, é aquilo que não se pode ver. Portanto, está atrás de nós, nos perseguindo a cada passo – como indicariam, nervosos, com o polegar virado pra trás, os mesmos colegas nativos, “Do futuro (aponta pras costas), nada sei”. O presente, como quase sempre, não vem ao caso.
Podemos culpar, portanto, a cultura em que vivemos por essa nossa mania de deixar o passado segurar as nossas canelas enquanto esperamos tanto de um futuro vislumbrado que parece nunca chegar. Como já diria Weimirsh*, linguagem corporal is a bitch.
*Teórico alemão da psicologia, que viveu nas primeiras décadas do século vinte e escreveu tratados sobre o assunto, sendo convenientemente inventado para fins de fechamento deste texto.