Nesta última semana li dois comentários sobre a mesma (e famosa) passagem do Pequeno Príncipe. Aquela do “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”. Em ambos, a premissa era negada, afinal, não nos tornamos responsáveis por aquilo que cativamos coisa nenhuma, problema de quem ficou cativado, que absurdo isso! E eu concordo um pouco. Normalmente, a “culpa” por qualquer sentimento é exclusivamente de quem o nutre. Temos a incrível capacidade de nos curar sem precisar amarrar outra pessoa na responsabilidade por aquilo que nós mesmos criamos.
E a opinião ficaria por aí, não fosse esse um caso de lost in translation, já que a passagem original, em francês, é assim:
Tu deviens responsable pour toujours de ce que tu as apprivoisé.
O pequeno príncipe se tornou responsável pela rosa não porque nutria algum sentimento especial e recíproco por ela. Ele se tornou responsável a partir do momento em que a colocou numa redoma de vidro. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que tens cativo, domesticado – assim como a raposa seria se o príncipe viesse no mesmo horário todos os dias.
E não sei se tem como discordar que é assim mesmo, nós somos eternamente responsáveis por aquilo que temos cativo, por aquilo que domesticamos. Seja o cachorrinho na coleira, seja o amor aprisionado. É uma escolha consciente essa de nos fazermos necessários a outras pessoas, e é inconsequente não tomar responsabilidade por isso.
E aí entra (novamente) a escolha da presa, ser livre ou domesticada?
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