Com esse título de autoajuda, O Poder do Hábito do Charles Duhigg, redator do New York Times, passa longe de dar conselhos genéricos ou lições de vida: é uma compilação de estudos de caso em que o chamado “hábito” rege determinado acontecimento. E tem de tudo, desde hábitos de compra, passando por estratégias nos esportes e indo aos mais ordinários vícios em jogos, álcool ou comida.
A ideia do hábito funciona assim: a maior parte das nossas ações não são realizadas de forma pensada, o cérebro é condicionado a fazer um tanto de coisa a partir de hábitos que adquirimos. Para que um hábito se forme, são necessárias 3 coisas básicas: 1. Gatilho, 2. Rotina, 3. Recompensa.
Resumindo, parece que nosso cérebro é parecido com o de qualquer ratinho de laboratório. Se realizamos alguma atividade a partir de algum estímulo que nos dá resultados positivos, em pouco tempo passamos a realizar a atividade sem pensar, apenas por força do hábito.
Exemplo prático: caminho para o trabalho. Você provavelmente automatizou o caminho que faz para ir ao seu trabalho, não pensa qual esquina precisa virar. O que acontece é que seu cérebro grava alguns estímulos (pode ser uma placa de rua, um bar da esquina) e, quando você recebe esse estímulo, você automaticamente se conduz para a direção correta, realizando a rotina (virar na próxima direita, por exemplo). Como recompensa, vem a sensação de estar chegando ou algo que o valha. E isso não é algo negativo, o cérebro poupa muita energia – e nós poupamos muito tempo de raciocínio- automatizando algumas (muitas) atividades.
Na maior parte das páginas, o livro aborda casos em que o hábito foi utilizado a favor de ações de marketing. Assim, ficamos sabendo logo no início que a pasta de dente começou a vender de verdade quando colocaram o ardido nela (e que não precisa ser ardida pra ter o mesmo efeito). Com a licença do exagero, a sensação de ardência é a recompensa que fez com que o hábito de escovar os dentes diariamente passasse de comportamento de uma parcela ínfima da população para mania nacional nos EUA.
Sim, o livro traz mais um zilhão de curiosidades de mesa de bar para sua vida, mas por que cargas d’água resolvi falar disso no meio da viagem? Simples. Estou utilizando as lições de programação do hábito a meu favor e ficando espantada com os benefícios da autoprogramação em certas ações do dia a dia.
Exemplo: estou morando em um apartamento em que a porta se tranca sempre que a fechamos. Ou seja, se não levar a chave quando saio, corro o risco de ficar trancada fora de casa. Solução: resolvi, conscientemente, estabelecer um gatilho pra conferir se estou levando a chave. Nos primeiros dias, sempre que girava a maçaneta da porta, conferia se estava levando a chave – e sentia alívio ao ver que ela estava lá. A partir da quarta vez que fiz isso, já estava automatizado. Hoje, é só eu aproximar a mão da maçaneta que já tenho uma micro-crise de ansiedade “será que estou esquecendo de levar a chave”, e olho pra ver se está tudo ok.
Para finalizar, assistam ao vídeo do autor (e leiam o livro!):