E tem teto rebaixado, iluminação indireta, mesa de mármore, uma televisão que só não é maior por falta de espaço. O que não tem é a marca da mão do Pedro na parede da cozinha, mais ou menos na altura do meu joelho. Que imundice era aquela, que ele guardava nos dedos e que nunca saiu da tinta – e como demorou para dar pra fazer a reforma. Não tem a lasca na quina da sala, de quando a geladeira nova chegou, nem o azulejo trincado perto do cano da pia. O chão do quarto não tem taco solto pra Vitória guardar tesouros dentro, e o vidro não tem nenhum adesivo de chiclete. Eu olho a vista ordinária por entre uma persiana sem mancha da poeira de minério e suspiro. É só uma imensidão de coisas cheirando a plástico e vazio.