Caraminholas

Neste momento, pouco mais de meio milhão de caraminholas passeiam pelo espaço entre o meu cérebro e eu. São verdes, azuis, roxas e pálidas, se locomovem como larvas, ou cobras, ou minhocas: apoiando seus voláteis corpinhos numa prega de neurônio e encaraminholando, indo de um lado a outro, percorrendo distâncias enormes em segundos. Algumas aproveitam para nadar no líquido ácido que circula por ali e, juro, vi umas que até asas tinham, mas faz já tempo já. Por conta delas, eu fico meio com medo das coisas, medo de ver um menino com guarda-chuva, porque é isso que faz as caraminholas se reproduzirem feito chuchu na cerca: meninos pequenos com grandes guarda-chuvas, a chuva que cai pequena e cresce de uma vez só, o sol que passa pelos buraquinhos da cortina, os namorados no shopping. E daí tem que fazer o controle, cortar caraminhola daqui, puxar outras de lá, para que não haja uma rebelião. Caraminholas revoltadas são perigosas como cisco no olho, deixam a gente meio sem juízo, sem razão.

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