O fulano que fazia taxi

Estava num bar, com um grupo de amigos, já passava de uma da manhã, quando resolveram ir finalizar a noite em um outro lugar próximo que tinha “jukebox”. Já nem lembrava como eu tinha chegado naquele bar, estava com sono e não tinha a menor ideia de em qual lugar da cidade eu estava, só que tinha 20 reais pra ir embora de taxi – e a distância certamente era muito maior. Comento da minha indisposição com um dos meninos, que estava de carro, e ele oferece carona “Vamos lá, umas 3 músicas e eu te levo em casa”. gays O grupo, formado majoritariamente por homens gays, cantava e dançava pela rua, “dando pinta” no sentido mais profundo da expressão (#giriasidosas). Nos dividimos nos carros disponíveis e aproveitei a oportunidade para ir com um terceiro amigo andar na Kombi de um quarto, que tinha acabado de conhecer. Era a primeira vez que eu via um motorista de Kombi gay e estava muito curiosa sobre esse nicho. Conversamos pelo caminho, acredito que ele tinha uma barraquinha numa feira ou algo assim.

Ao chegar no local, um bar de bairro, meio sujo e sombrio àquela hora, fiquei temerosa por estar num grupo tão “animado”. Na entrada, uma mesa de pôquer concentrava senhores barrigudos, fazendo minha preocupação ganhar forma. Comecei a entoar meu mantra interno sociedade homofóbica: vamos apanhar, vamos apanhar, vamos apanhar. Uma olhada pra garçonete do lugar me tranquilizou. Ela parecia ser uma travesti e recebeu os meninos como velhos conhecidos – ufa, não vamos apanhar… gayhell Fomos acomodados numa mesa forrada com papel contact da Hello Kitty, próxima à pequena jukebox aos fundos do bar. Olhei para a carona: “só três músicas e já vamos!” repetiu ele. Mal pisquei e já tinham enfileirado 15 músicas, entre Sandy e Júnior, Roberta Miranda e Vanessa Camargo, enquanto dançavam animados à trilha de Pequena Sereia. Planejando sacar dinheiro pelo caminho, decidi pedir pra garçonete para ligar para um taxi. Ela exclamou: “Peraí, que fulano faz taxi!” E saiu esbaforida pela rua a procura de fulano que fazia taxi. death Fulano que fazia taxi tinha uma Brasília 64 vinho com o vidro da frente trincado e aparentava estar saindo de algum outro bar. Obviamente não havia um taxímetro, então, fingindo segurança, como se pegasse fulanos que fazem taxi sempre, perguntei: “Quanto sai a corrida”, “Ah, não sei, diz aí, quanto você acha”. Lembrei da nota de 20 reais na bolsa e soltei um resoluto “Uns 15.” ao que ele retruca “Não… Uns 20, vai…” e fui. Cheguei viva.

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