Ao tempo, esse amado

Perde-se discutindo se algo aconteceu antes ou depois. Em 82 ou 87, quando a gente ainda estava ou quando já tinha ido. Um instante teimosamente exato de um espaço e ser passado. Há quem dê valor a essa coisa cronológica. Eu não.

Ultimamente tenho ressignificado o tempo. Tenho refletido sobre o sentido dos anos que passaram, quantos anos faltam pra isso e quantos anos pra lá serão como os anos que tive até aqui. Tenho quantificado o tempo que cura e tenho, por fim, qualificado a memória que fica – depois de tanta mágoa, ainda assim me veem os detalhes belos.

O meu tempo fica aprisionado nos vidrinhos de lembrança, aromáticas reminiscências da infância, mas também é solto como os cachos de cabelos branqueados do porvir. Meu tempo é como o comprimido efervescente que borbulha um, dois, três, milhões de segundos a cada instante. Ele se multiplica como pegadas na areia e desaparece como o sal na água.

Peço, ao meu tempo, o esquecimento voluntário, a relatividade, a sincronicidade. Que seja eterno enquanto dure e que, na ordem a ser lembrada, qualquer que seja, o depois seja sempre mais do que o antes.

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