Ashram dos Beatles em Rishikesh

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Decidi ir para Rishikesh por conta da referência que tinha pela história dos Beatles (que foram pra lá, ficaram hospedados em um Ashram e piraram e escreveram música e etc.). E olha que eu nem sou tão fã assim deles. Queria ver se conseguia um pouco da energia criativa que o lugar deveria ter.

Na ida, o engarrafamento que o ônibus pegou na hora de atravessar a ponte com certeza não fazia parte do repertório de experiências da banda – acredito que muito menos o ônibus em si, já que não imagino os Beatles chegando em ônibus da rodoviária. Cheguei, fui ao hotel e dormi. No dia seguinte, acordei bem cedo e parti para a aventura a pé, meu plano era visitar duas pontes famosas, templos, o Ganges e depois ir até o Ashram dos Beatles.

Parte 1 do caminho

Caminhada parte 1  (saí do lugar em cima, na direita)

Depois da primeira parte do passeio, que contei o clímax aqui, consultei o roteiro para o Ashram. O Google Maps me ensinou o caminho do jeito errado. Quando estava bem perto, no X vermelho da imagem abaixo, um homem de lungi (tecido enrolado nas pernas, na forma de saia, característico dos homens do sul da índia – Rishikesh é bem no norte) me interrompeu aos gritos, dizendo que o Ashram estava fechado.

Aqui na Índia uma das regras turísticas é: não acredite se um indiano te falar que está fechado (que o trem não passa ali, que não tem mais ingresso e todas as variações). Fingi que ia ligar para alguém para cobrar explicações: teatralmente peguei o celular, fiz cara feia, ameacei perguntar o nome do cara que me falou que estava fechado. Nisso, um guarda veio me informar que, para ir ao Ashram dos Beatles, era para eu dar a volta e ir pelo outro lado. O caminho do Google passava por uma estrada particular que tinha um portão trancado na outra ponta.

Pelo caminho “correto”, eu passei por um trecho meio sem pavimentação, que não parecia uma estrada. Deu um pouco de medo, estava sozinha, havia uma área de construção perto do rio (imaginei se os Beatles tinham meditado ao som de britadeiras). Mas consegui chegar em segurança.

Ashrams são lugares construídos para prática da meditação, você come, dorme e medita por lá. Existem Ashrams “de raíz” em que não se paga. E Ashrams “comerciais”, em que por um preço salgado você medita com conforto. Aquele em que os Beatles passaram um tempo era desse tipo comercial e acabou fechando as portas em 97. A partir daí, turistas tilelês começaram a invadir as casinhas e o prédio do complexo e a fazer grafites pelas paredes, em homenagem à banda.

De uns anos pra cá, o Ashram dos Beatles começou a ser listado por blogs como um lugar de “turismo de ruínas urbanas”, o que deu mais visibilidade, fazendo com que a visitação ficasse ainda mais intensa. Daí, no final de 2015, o governo decidiu começar a cobrar entrada para o Ashram. São 150 rúpias para indianos e 600 rúpias para estrangeiros conforme li num jornal local. Porém, não foi feita nenhuma reforma ou intervenção. Você paga para correr muitos riscos em construções caindo aos pedaços e para ver arte feita de forma espontânea e gratuita – nenhuma plaquinha “John Lennon sentou aqui”.

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Com certeza, deve ter sentado. (Banheiro de uma das casas do Ashram)

Na porta, do lado de fora, um rapaz interrompeu sua leitura de um jornal para me falar que eu tinha que pagar para entrar – como ele não estava dentro do prédio e parecia um indiano aleatório, questionei: “pagar pra você, cara pálida, eu não”. E fui entrando até um lugar que me pareceu uma guarita de portaria. O rapaz me seguiu e entrou na guarita. Aí sim. Paguei as 600 rúpias e subi um morrinho para visitar os prédios, completamente sozinha.

Dentro das casinhas, em que supostamente os Beatles dormiam, muita poeira, sujeira e nada da energia criativa. Porém, foi muito divertido descobrir uma nova pintura em cada canto. E subir por escadas despedaçadas – pensando em quantas pessoas não iriam morrer caindo dos andares que terminavam em nada (sem parede, sem chão). Algumas artes são emocionantes, outras engraçadas, e me peguei esquecendo dos “Beatles”, para imaginar os artistas trazendo tintas e passando horas finalizando os desenhos – mesmo porque o romantismo da época tinha se esvaído quando li que acho que o George ficou só 10 dias e foi embora por conta de piriri, outro não aguentou os mosquitos, outro brigou com o guru e só o John Lennon resistiu bravamente à pegadinha pra inglês ver que são esses retiros mais chiques.

Fiquei duas horas explorando as construções, completamente solitária. Como só tinha uma forma de chegar ao Ashram, acredito que fui a única daquela manhã a estar por lá. A reabertura para visitação é recente, então ainda não é um destino tão “popular”. Acredito que as estruturas não aguentem muitos turistas de cada vez também. É um bom lugar para visitar, esquecer dos Beatles e celebrar paz, amor e tilelelismo em sua forma mais pura. Se você sabe mexer com as tintas, muitas paredes esperam por você!

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