Eu sei bem o momento em que pensei: nada vai superar isto. A viagem tirou algo de mim.
Foi no dia 19 de outubro de 2013, pouco depois das quatro da manhã (diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo).
O Angkor Wat, templo principal do complexo Angkor no Camboja, torceu meus sentidos e chacoalhou minha alma. Lembro como se estivesse lá agora… a sensação de pisar na grama molhada de orvalho, escutando, de um lado, grilos insistentes e, de outro, cânticos de monges budistas, num escuro tão profundo que os sons pareciam ganhar forma.
Tinha decidido me afastar da pequena multidão que se acotovelava do lado de fora para ver o nascer do sol refletido num dos lagos que rodeavam o templo. Essa imagem tão replicada em cartões postais já parecia memória.
Mergulhei no breu em direção às ruínas.
Enfeitando o escuro como vagalumes, havia a impressão fantasmagórica de panfletos luminosos flutuantes. De muito perto dava para discernir vendedores ambulantes e suas lanternas iluminando mapas antigos e postais. Depois deles, apenas sons e passos.
Tateando muros e descobrindo o vazio de portas, me encontrei solitária num pátio amplo, dentro de tudo. E então o sol nasceu incendiando o horizonte.
Já com o dia claro, percebi: nenhum outro lugar vai ser tão transformador. E não foi. Não houve, desde então, paisagem ou monumento que me trouxesse de volta a sensação de estar tão fortemente presente, de existir tão intensamente.
(Mas ainda restam as pessoas, e os sentimentos por elas.)
voltou a escrever. ❤
e lindamente.
(é a raridade dos momentos incríveis que confere valor neles. pera, eu li isso no pequeno príncipe? :p)
Ahahaha, obrigada!